Bacia do Paraná e era glacial: como as regiões de Sorocaba e Jundiaí abrigam resquícios de um passado pré-histórico

Região foi atingida por uma era glacial, que limitou a existência de vida e dificultou a formação de fósseis. Parque Geológico do Varvito, localizado em I...

Bacia do Paraná e era glacial: como as regiões de Sorocaba e Jundiaí abrigam resquícios de um passado pré-histórico
Bacia do Paraná e era glacial: como as regiões de Sorocaba e Jundiaí abrigam resquícios de um passado pré-histórico (Foto: Reprodução)

Região foi atingida por uma era glacial, que limitou a existência de vida e dificultou a formação de fósseis. Parque Geológico do Varvito, localizado em Itu (SP), é um dos poucos locais da região que preservam marcas da pré-história. Parque Geológico do Varvito guarda resquícios da pré-história em Itu (SP) Prefeitura de Itu/Divulgação No período Paleozóico e Mesozóico — entre 460 e 65 milhões de anos atrás —, as regiões de Sorocaba (SP) e Jundiaí (SP) estavam no limite da chamada "Bacia do Paraná": uma gigantesca área baixa e sedimentar, que se comportava como um mar raso. Essa formação surgiu no período em que a Pangeia ainda existia — quando África e América do Sul estavam unidas. 📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp Neste domingo (15), Dia do Paleontólogo, o g1 conversou com o geólogo Rodrigo Salvetti, professor de Paleontologia e morador de São Roque (SP), para entender mais sobre a formação das rochas no período pré-histórico e a falta de fósseis dos animais na região. "A região de Sorocaba e Jundiaí é muito especial para o estudo das rochas do Estado de São Paulo. Essas cidades estão no limite do que chamamos de Bacia do Paraná. Ela se estendia desde o norte da atual Argentina, passando pelo que hoje é o Paraguai, Uruguai, toda a região Sul do Brasil, o Estado de São Paulo, e continuava pelo continente africano, na chamada Bacia do Karoo", explica. De acordo com o especialista, o terreno sedimentar — resultante da Bacia do Paraná — é uma área com rochas formadas na superfície da Terra, a partir do acúmulo e da compactação de sedimentos, como areia, argila e cascalho, depositados por agentes externos, como água, vento e gelo. "Portanto, nos ambientes de sedimentação, como em mares e lagos, é possível existir vida e os restos dos animais podem ficar preservados no meio das partículas minerais ou orgânicas", revela. Apesar de grande parte das cidades da região estarem sobre terrenos sedimentares, o geólogo explica que algumas, como Jundiaí e São Roque, estão inseridas em áreas de formação com rochas cristalinas, onde geralmente não são encontrados fósseis. "Os fósseis são muito mais frequentes em rochas sedimentares do que em rochas cristalinas. As rochas cristalinas se formam nas camadas mais profundas da Terra, geralmente por meio de processos vulcânicos ou pela movimentação das placas tectônicas", diz. "Por isso, nem todas as rochas contêm fósseis, já que, com a fragmentação da Pangeia, muitas rochas sofreram erosão [desgaste], e os fósseis que poderiam estar nelas se perderam. É por isso que afloram muitas rochas cristalinas na nossa região, como granitos, xistos e gnaisses", acrescenta. Dissertação de mestrado do geólogo Rodrigo Salvetti, de São Roque (SP), mostra que área amarela é atingida pela Bacia do Paraná Rodrigo Salvetti Era glacial e a falta de fossilização A Bacia do Paraná acumulou centenas de metros de sedimentos ao longo de 400 milhões de anos. No entanto, durante boa parte deste período, a bacia da região estava sob o efeito de uma intensa glaciação, o que limitava a existência de vida nas marés, de acordo com Rodrigo e sua dissertação de mestrado "Sistemas Deposicionais e Paleogeografia do Subgrupo Itararé (Neopaleozóico da Bacia do Paraná)". "As evidências dessa glaciação aparecem, por exemplo, na forma de estrias (arranhados) nas rochas. No Varvito, inclusive, ocorrem marcas na superfície da rocha que são atribuídas a passagem de animais pelo fundo desse corpo de água que ali existia. Como não temos nenhuma evidência dos 'ossos' desses animais, chamamos essas marcas de icnofósseis, ou seja, são somente rastros de animais que existiram na época em que esses sedimentos estavam se formando", explica. Dissertação de mestrado do geólogo Rodrigo Salvetti, de São Roque (SP), fala sobre o período glacial nas regiões de Sorocaba (SP) e Jundiaí (SP) Rodrigo Salvetti É por isso que, devido a esse período, os únicos registros fósseis notáveis encontrados na região são os icnofósseis — vestígios de atividades de animais e vegetais nos sedimentos e rochas — como, por exemplo, as marcas no Parque Geológico do Varvito, em Itu (SP), e no Parque da Rocha Moutonnée, em Salto (SP), explica o geólogo. "É importante entender que a ausência de fósseis não significa que não havia vida. A vida complexa, com vários tipos de células, já existe no planeta desde o período Cambriano, há cerca de 540 milhões de anos. No Brasil, a formação da Pangeia e os períodos de muito frio [glaciações] dificultaram o desenvolvimento da vida, mas ela continuava existindo em outras partes do mundo. Mesmo durante o frio intenso, havia algum tipo de vida, como mostram os icnofósseis", ressalta. Geólogo, Rodrigo Salvetti, mora em São Roque (SP) e explica sobre a formação das rochas das regiões de Sorocaba (SP) e Jundiaí (SP) Arquivo Pessoal Parque do Varvito Regiões de Sorocaba e Jundiaí ficavam no limite da "Bacia do Paraná", segundo o geólogo Rodrigo Salvetti Prefeitura de Itu/Divulgação O Parque Geológico do Varvito preserva rochas sedimentares que testemunharam a presença de geleiras há milhões de anos. Inaugurado em 23 de julho de 1995, o local foi reconhecido como monumento geológico pelo Conselho Estadual de Monumentos Geológicos (COMGEO-SP). "Ele foi criado a partir da desativação da antiga Pedreira Itu, que funcionava desde o século 18, extraindo lajes para pavimentação e calçadas da cidade", diz Beth Brandão, bióloga e Secretária Municipal do meio Ambiente. Brandão explica ainda que o varvito é uma rocha composta por "varves", isto é, pares de lâminas anuais formadas em lagos glaciais. Cada par é composto por uma lâmina clara (mais espessa, de areia e silte, depositada no verão) e uma lâmina escura (mais fina, de silte e argila, depositada no inverno). Confira as características do monumento abaixo: Estratificação rítmica: camadas alternadas clara/escura que correspondem a ciclos sazonais; Dropstones: presença frequente de clastos — fragmento de rocha ou mineral — caídos de icebergs que afundam e interrompem as lâminas; Registro paleoambiental anual: cada varve funciona como “anéis de crescimento” glacial, permitindo estimativas de duração e intensidade da glaciação ao longo dos anos. Parque Geológico do Varvito, de Itu (SP), é um dos registros do período glacial e pré-história da região Prefeitura de Itu/Divulgação No parque, são feitos vários estudos para entender as rochas e como era o ambiente da Terra há milhares de anos. Essa área da ciência se chama sedimentologia. Outra linha de pesquisa é o estudo dos paleoambientes, que busca descobrir como eram a paisagem, o clima e a natureza naquela época. A profissional também conta que a dinâmica da glaciação é um dos temas estudados nas pesquisas acadêmicas realizadas no local. "São feitos estudos como contagem e análise dos varves para entender variações climáticas na Era Glacial. Além da pesquisa da dinâmica de glaciação no supercontinente Gondwana e da Bacia do Paraná. Projetos de extensão acadêmica e parcerias com universidades", finaliza Brandão. A visitação do parque é gratuita, e o local fica aberto de terça a domingo, das 8h às 17h. A área geológica está localizada na Rua Parque do Varvito, número 400, Parque Nossa Senhora Candelária. Parque do Varvito tem entrada gratuita em Itu (SP) Prefeitura de Itu/Divulgação Resquícios da era glacial e pré-história são mantidas em parque de Itu (SP) Prefeitura de Itu/Divulgação *Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM